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Behind the trees: notificações
(Acabei de escrever esse texto, um pouco sem nexo, com base naqueles pensamentos igualmente sem nexo que a gente têm antes de dormir. O título da sessão vai ser Behind the Trees, porque esse é o título de um curta criado pela cantora Amanda Palmer com base numas conversas que ela teve com o Neil Gaiman antes de dormir – umas paradas sensacionais. Vai consistir no amontoado de coisas que eu penso antes de dormir e, igualmente a eles, não fará muito sentido. Mas ta aí pra quem quiser ler.)
=x=
Ele chegou assim, sem jeito.
Foi tímido, mas tão sincero que chega apertou meu coração de tanta alegria. Lembro como se fosse ontem. E hoje. E foi. Ainda é.
Meu coração deu tantas voltas nesse tempo em que você chegou e eu te peço desculpas. Por todas as vezes em que te ignorei, por todas as vezes em que mal respondi, por todas as vezes. Todas as vezes em que fui cega e não te vi partir para depois voltar cheio de ideias. E eu mal dei bola. Mal fiz gol. Coitada de mim, mal sabia eu que estaria aqui, novamente presa, ao formato de seus cachinhos. Ao mistério de seu olhar. Às viagens que não fizemos (ainda, espero). A uma foto que encontrei perdida no seu perfil (tão linda). Ao seu avatar que me espia e que me dá paz. Te deixei de lado, na corda bamba, por outros que não eram você nem nunca serão. Perdoa o drama e não desiste de mim? Ou, pelo menos, insista em mim? Porque eu já te quero. Bastante.
Eu sei que respiramos o mesmo ar. Sei que nossos céus têm mais estrelas, nossas várzeas têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nossa vida mais amores. Amores esses que eu quero compartilhar contigo. Daqui ou em qualquer canto da cidade. Só deixa?
Você se acha estranho, mas estranho mesmo é isso que cresce aqui dentro, sem explicação.
Eu te vejo. Como a Amanda Palmer via as pessoas na rua quando era estátua viva. Te vejo em cada mínimo detalhe, em cada palavrinha solta, em cada imagem, em cada canção, em cada emoção, em cada pulsar do meu coração, em cada poema, em cada vontade, em cada medo, em cada papel, em cada livro, em cada filme e série, em cada luz de poste à noite, em cada estrela, em cada universo que crio e tenho pena de destruir. Aqui dentro de mim. E não tenho medo de dizer que você é lindo de uma forma lindamente linda.
E é péssimo me arrepiar inteira de medo da frustração. Medo do nó que sumiu da minha garganta voltar. Medo de nunca te encontrar. Medo da decepção (por favor, pode partir se quiser, só não parta meu coração).
Escrevi um poema para você com tantas referências literárias que dá gosto de ler. Nunca escrevi algo tão bonito para ninguém. Não é clubismo, foi só o que você despertou em mim. Quero que você me leia mais uma vez, dessa vez sobre você. Quero que você me leia para sempre.
Tão difícil escrever para você, sem te conhecer de fato. Tudo parece flutuar num abismo que não chega a canto nenhum.
Aí eu temo (e teimo) de novo, sabe? De ser tudo uma ilusão. De novo e de novo e de novo. O pior é que você já se tornou minha preciosa notificação.
Aí eu durmo e te encontro em algum lugar da minha mente. Lá vou eu outra vez?
Obs: o videozin maroto da Amandinha. Se não gostou do texto, garanto que vai curtir isso aqui (ou não, né?)
Ausência
Me desvaneço
em sombras & pó
& numa canção que
rasga o rádio e as
entranhas de
um passado
febril
vou embora
com o resquício da
sua voz
que embala o
corredor pálido
(de nós dois e de frio)
Sou capaz de tropeçar
nesse arremedo de gente
em cada quina e canto
em cada curva da
estrada
Vou deixando de ser
Eu-Nós-Vós
Me-mim-comigo
Até restar
absolut
ame
nt
e
Nostalgia
ela carrega flores ao longo
dos cabelos
e o amor dentro dos olhos.
vaga para um lugar próximo
à Lugar Nenhum
e sabe que não vai voltar.
ela corre com dois pés esquerdos
e grita mais alto que o som
do vento passando por entre as árvores:
ela não está bem (como se isso, de fato, fosse novidade).
o orvalho cai de seus olhos
quando ela lembra dele; ser inanimado,
que mais parece Sonho do que Realidade;
ele sorriu uma ou duas vezes e
deu três suspiros profundos, seguidos
de trezentos e sessenta olhares mal-correspondidos.
ela se inflamou de paixão e quase entrou em combustão na primeira
vez em que viu a cascata cor de chocolate
que eram aqueles benditos olhos.
ah, aqueles benditos olhos castanhos…
ela queria se afogar
[nele e na calma e esperança que ele trazia]
mas não havia tempo: ela tinha que
correr até Lugar Nenhum e, quem sabe,
encontrar o Amor em sua forma mais pura.
ela carrega flores ao longo
dos cabelos
e o amor dentro dos olhos.
passa despercebida por tudo e todos
como um papel de parede rasgado
e puído pelo peso dos anos.
ela quer aprender a falar mais
do que sonha,
mas os sonhos são mais sagrados
do que palavras jogadas ao vento.
então ela se acalma e olha a
linha infinita entre as montanhas
e o céu.
e para.
e chora.
e se lembra de quando era menina.
de quando não precisava se apaixonar,
ou pagar contas, ou resolver fórmulas
de Física, ou ser politicamente correta…
ela se lembra de quando a inocência
a enrolava como um cobertor e
as duas dormiam de mãos dadas
ouvindo a canção de ninar
da noite.
mas agora tudo isso se foi.
ela cresceu, assim como os cabelos dela
ornamentados por flores;
o amor que mora bem no fundo dos
olhos dela necessita de
aconchego, carinho e estórias a
serem ouvidas e contadas.
ela carrega flores ao longo
dos cabelos
e o amor dentro dos olhos.
ela parou no meio do caminho.
[e sabe que não poderá voltar]
Aquela música do Jeneci
Tocou aquela música do Jeneci num comercial de TV, amor, e eu lembrei de nós dois. Fiz quatrocentos e cinquenta mil planos e os escrevi naquele guardanapo que você não usou no café da manhã. Dentre eles um mochilão pela Europa, acordar às cinco e meia da madrugada todo dia pra te ver dormindo, tomar um sorvete num quiosque de praia qualquer e criar três filhos sapecas correndo pela casa. Imaginei cada linha do que ainda virá. E será lindo.
Sempre irei paralisar quando te ver chegando. As borboletas no estômago nunca sairão voando pelos ares; elas permanecerão aqui dentro, me lembrando indiretamente que eu preciso respirar e correr para os seus braços. Mas só olhar você vindo até mim em câmera lenta – sorrindo sem jeito – já basta.
Eu vou cantar pra você, amor. Uma das músicas que você tanto ama, daquela banda que ninguém conhece. Vou segurar sua mão nas enchentes que a vida traz de repente, inundando nosso sono e nossa paciência. Ela gosta de pregar peças como um menino arteiro, mas eu sempre consertarei tudo o que ela estragar. Por você e pra você. Serei seu porto seguro, sua dormida, seu lar. Deixarei você fazer morada em mim pelo tempo que restar, até o eco dos nossos corações se tornar barulho no meio da multidão. Vou dançar com você no silêncio da noite, só pra você pisar no meu pé e eu rir da sua cara de espanto. Quem sabe nós daremos sorte de observar o sol nascer na varanda. Quem sabe um passarinho pouse na janela e encha nossa casa de poesia. Quem sabe…
[Quem sabe a gente se perca no mundo e passe a viver só de amor…]
Te abraçarei infinitamente até você sentir falta de ar. Te olharei no fundo dos olhos e não direi uma só palavrá. Você entenderá, assim, o amor que mora em mim, o amor que mora em nós, o amor que mora em tudo o que nos cerca. Recitarei Pablo Neruda pra você quando brigarmos. Neruda cura qualquer dor de amor. Você ouvirá cada verso até cair no sono. E eu farei dos meus beijos seu cobertor.
O problema, amor, é que ainda não existe “nós dois”. Mas eu largo tudo se a gente se casar domingo.
(A música do Jeneci é essa aqui, ó ♥:)
Pra você guardei o amor
O sol escondia-se atrás do aglomerado de prédios à nossa frente. Era o evento mais lindo que eu presenciava em anos, apesar de toda a poluição de São Paulo que mesclava o céu alaranjado com enormes cortinas acinzentadas. Nossas mãos entrelaçavam-se como um nó de marinheiro, enquanto minha cabeça dormia tranquila no ombro direito dele.
– Eu queria ser uma câmera fotográfica agora. – eu disse, ainda fixando o olhar na enorme meia-lua laranja.
Ele limitou-se a suspirar o aroma de morango dos meus cabelos e rir. O meu riso preferido, que podia significar “você é maluca” ou “eu concordo com você”. Mas, bem lá no fundo, sabia que ele havia captado a mensagem.
Naquele momento, em que o silêncio ricocheteava na árvore mais próxima daquele mirante, eu encontrei respostas para as perguntas que rondavam meus pensamentos desde pequena. Ali, sentada na grama recém-aparada, ao lado do cara mais incrível do mundo eu entendi o que era amar alguém de verdade. Entendi o propósito de passar noites sem sono ou dias inteiros ouvindo a mesma canção romântica no replay infinito. Entendi o significado de sacrificar-se por alguém, mesmo que isso mude sua vida por completo. Entendi o porquê dos meus pais se abraçarem quando passávamos por alguma dificuldade e também o porquê deles terem me ensinado que você só entrega seu coração quando tem total certeza de que a pessoa vai cuidá-lo como realmente tem que ser. Arrancando todas as ervas daninhas e semeando flores ao longo dele pelo tempo que restar. E é por isso que eu queria ser uma câmera fotográfica naquele instante. Eu armazenaria cada minúsculo ponto daquele cenário perfeito, no qual éramos rei e rainha daquela enorme cidade, apenas para repassar mentalmente para os nossos filhos algum dia o que eu havia descoberto: que amar é o ato mais altruísta que existe.
– Valeu a pena ter esperado por você. – encontrei o olhar amendoado dele enquanto corria meus dedos pelos cabelos castanhos desgrenhados que eu tanto amava. Ele apenas sorria, ou talvez pudesse ler na minha mente tudo o que eu acabara de pensar naqueles poucos minutos nos quais o sol desaparecia.
Porque eu sei que lá na frente sempre haverá a linha tênue entre o céu escuro e os inúmeros pontos brilhantes que começavam a aparecer. Lá na frente, os gigantes prédios sempre adormecerão um a um. Lá na frente sempre haverá nós dois. Perdidos para sempre no horizonte da vida.
Leia ouvindo:
Virou clichê
Virou clichê acordar lá pelas duas da manhã pensando em você. Talvez você também pense em mim antes de dormir e também imagine diálogos soltos que nunca serão ditos por nós dois. Talvez. Não sei. Virou clichê ficar pensando nisso. Virou clichê te colocar em cada verso do poema, em cada linha da prosa perdida, em cada personagem dos romances que eu leio por aí. Virou clichê ouvir inúmeras músicas numa estação qualquer e te encontrar no dedilhado do violão ou no grito que enche meus ouvidos na última parte da canção. Virou clichê pegar meus pensamentos vagando e oscilando entre seus olhos e sua respiração, quando eu tenho tanta coisa – mas tanta coisa – para fazer. Virou clichê escrever para você (levando em conta que também é clichê o fato de que você nunca chegará perto das folhas de papel acumuladas na última gaveta da minha escrivaninha).
Se você pudesse ouvir o silêncio gritante que paira bem acima do meu peito, entenderia. Entenderia a origem do Universo, as inúmeras falhas que cometemos inconscientemente e o porquê de eu sorrir toda vez que te pego me observando. Com esses benditos olhos castanhos que me fitam, até sem querer, de minuto em minuto.
Virou clichê ter medo de você. Ter medo que você não sinta, não chore ou não pense em mim quando a chuva tamborila no telhado. Existe algo mais clichê que isso? Porque eu quero suas mãos nas minhas enquanto caminhamos pela cidade. Enquanto você olha uma árvore e vê um ninho, imaginando o nosso próprio daqui a alguns anos. Quero acordar de manhãzinha, naquela hora em que o sol começa a se espreguiçar, só pra te ver suspirando leve, sereno, menino. Meu.
Mas o maior clichê de todos os clichês é essa incerteza que me corrói. Não saber se você vai ficar por aqui em alguma dessas suas chegadas bruscas que me tiram o fôlego. Não saber se posso me mostrar para você do jeito que sou – sem máscaras, medos ou inseguranças, apenas eu e meu coração. Não saber se é válido cronometrar os milésimos de segundo até o dia em que só existirá um “nós”. E mais nada.
[Amor, na verdade, acho que todo esse clichê é apenas saudade. Ou talvez solidão.]
Pedaços de mim #1: A brisa de dezembro
Ocorreu-me que ontem não havia nada para fazer na minha monótona vida. Decidi aproveitar o dia para encarar o teto branco do meu quarto e pensar em absolutamente nada – olha o que a falta de livros para ler não faz, não é mesmo? A internet anda deveras irritante e porque não perder algumas horas formando pensamentos niilistas, sem compromisso algum? Em um desses momentos, em que eu pensava em tudo e nada, uma brisa boa entrou pela janela. Não uma brisa qualquer, de um dia sem importância: era uma brisa de dezembro. Sim, existe uma grande diferença entre a Brisa de Dezembro e a de qualquer outro mês do ano. As brisas de finais de ano são quentes, convidativas, prenunciam a alegria das festas natalinas e um ano novo que logo mais se iniciará. Lembram praia, sol, maresia, risadas de crianças e churrascos em família. Já as de março, abril ou junho não têm a menor graça. Servem apenas para despentear nossos cabelos e levar as folhas de papel soltas da escrivaninha para algum lugar inóspito do quarto.
A minha Brisa de Dezembro lembrou-me tantos episódios felizes da minha infância que foi impossível não sorrir sozinha. Ela sempre me acompanhava no quintal da minha antiga casa enquanto eu fitava o céu, ansiosa pela queima de fogos do Réveillon – ou quando esperava papai estourar a garrafa de champanhe depois da meia-noite, apenas para ter a oportunidade de vasculhar a varanda inteira em busca da rolha saltitante que insistia em fugir de mim.
Talvez a brisa que veio ontem me visitar pela manhã tenha sido apenas um anúncio de que a Primavera bate à porta com seu longo vestido florido, oferecendo esperanças aos sonhadores. Mas, no fim das contas, a Brisa de Dezembro durou menos do que eu gostaria e, em questão de segundos, voltou a ser setembro.
Dialogando
– Tá vendo aquela estrela lá em cima, Marcelo? Ela é sua. Dei seu nome pra ela. Não, não ri assim. É verdade. Eu te amo. Tá, não tanto quanto você gostaria, mas amo. Mesmo. Voltando à estrela: ela é sua. Você pode fazer o que quiser com ela. Um pedido, dois pedidos, três pedidos… Não, Marcelo, ela não é uma lâmpada mágica. É uma estrela. E-s-t-r-e-l-a. Uma estrela brilhante, como você. Ok, admito que sou ingênua. Mas o que seria da nossa vida sem um pouco de distração e infantilidade às vezes, hein? Marcelo, olha pra mim, não vai embora… Daqui a pouco o dia amanhece e eu quero continuar aqui. Com você. E com a estrela. Marcelo, a Estrela Brilhante. Não é bonito? Não? Como não? Tá. Parei. Mas, por favor, não me deixa. Eu sei que eu errei, mas fica. Por mim. Por nós. Pela estrela… Vou te contar um segredo: ela tá olhando pra gente também. Estrelas têm vida própria, só não podem sair perambulando pelo espaço toda noite. Seria estranho ver um montão de pontos brilhantes dançando pelo céu, não acha? Mas, pra ser sincera, seria lindo. Como naquela festa em que a gente dançou até os pés doerem. Como assim eu não danço bem? Você é que não dança bem. Nunca dançou. Mas eu gosto de você mesmo assim. Com dois pés esquerdos e esse olhar de menino. É. Eu te amo. Estranho falar isso várias vezes em voz alta. Sabe quando a gente repete muito uma palavra e ela acaba perdendo o sentido? Então. Eu-te-amo-eu-te-amo-eu-te-amo-eu-te-amo-eu-te-amo-eu-te-amo… Cansei. Tá vendo? Amar você não faz mais sentido. Acho que vou embora. Não quer que eu vá? Que milagre! Posso deitar aqui com você? A grama é desconfortável. Demais, até… Posso ouvir seu coração batendo? É lindo. Como você, a estrela e o céu. Eu sei que é chato eu ficar repetindo isso, mas é que eu tô feliz. E a estrela continua sendo sua. Como o meu amor. Pelo tempo que restar.
[E os dois caíram no sono ali mesmo. Marina, Marcelo e a estrela que se apagava com a chegada dos primeiros raios de sol.]
Sobre o processo de desapaixonar-se
De repente o mundo volta ao seu eixo habitual. Músicas tocam no rádio, cenas passam na televisão e tudo o que você faz é ignorá-las. Apático. De repente a comida no prato volta a tornar-se quente e o banho quente no frio não é mais tão convidativo. O travesseiro passa a acomodar-lhe apenas os cabelos curtos e cacheados. Não mais sonhos e planos. A vida segue tranquila, como se nela não faltasse nada além de contas a serem pagas no fim do mês. Ou o cinema de sábado à tarde. Sem companhia.
O caminho que leva à rua agora é curto. Não há mais pressa ou agonia em encontrar a calçada, os carros, a porta de madeira escura e aquele olhar que tanto o perseguia por entre a multidão. Quem dorme tranquila no banco do passageiro, neste exato momento, é a solidão.
Essa bobagem de ter alguém para amar é ilusão, você pensa. Você percebe que a vida passa rápido e é difícil fazer as coisas boas durarem. Você percebe que o sol não se põe. É apenas uma ilusão causada pelo mundo girando, a letra da canção já dizia. Você se deu conta, não é mesmo? No fim de tudo, talvez o amor seja mesquinho. Você não queria fazê-la feliz. Apenas ser feliz com ela.
Mas não foi isso o que você aprendeu no jardim de infância, quando a tia Maria o obrigava a fazer dupla com a Luana, a menina dos olhos tristes. Ela o ensinou que amor é algo supremo e que não existe apenas entre casais. Você ama seus pais, seus irmãos, seus livros e o cachorro de estimação. Até aquela moça aparecer e roubar seu mais lindo sorriso e as mais tímidas batidas do seu coração. Por um ano e seis meses. Escravo de algo que funcionava teoricamente.
Você pensa em nunca mais querer tanto outro alguém. Pensa em desistir do trabalho e da escrita e viajar pelo mundo como um lobo solitário – ou talvez apenas observar a chuva açoitando a janela e ter o prazer de discutir mentalmente qual gota chegará primeiro ao terceiro andar. Não mais enxergá-la como algo poético. Mas, bem lá no fundo, sabe que mais dia ou menos dia todas as lembranças voltarão. Encobertas por outros cabelos, outra risada, outros gostos, outra voz, outro olhar de menina e outras noites de insônia e indecisão: ligar para ela ou não ligar? Eis a questão.
Em algum canto remoto da sua mente, você admite que valeu a pena. Por um tempo.
Agora você pode respirar aliviado. Não há o quê temer. Amores vêm e vão. Voltam e tiram nosso sossego. Acabam rápida e drasticamente. Duram um minuto e duas respirações. Ou eternamente.
Deite a cabeça no encosto do sofá e feche os olhos por alguns minutos. Agora você pode voltar a dormir.
Por enquanto.
[Neste texto foi utilizado um trecho da música “Do You Realize?”, The Flaming Lips].